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Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e ex-presidente do COSEMS/SP atualizou o status da pesquisa e explicou como será sua a segunda fase
Em dezembro de 2021, os 645 municípios do estado de São Paulo receberam questionário referente à pesquisa: ‘Enfrentamento da pandemia de COVID-19: produções, invenções e desafios na gestão do cuidado em rede’. Foram obtidas 304 respostas das SMS, efetuadas por parte dos secretários(as) municipais de saúde ou pessoa indicada. A partir da aplicação dos critérios para eliminação de duplicidade, considerou-se 255 respostas como válidas, o que corresponde a 39,5% dos municípios paulistas (2/3 respondidas por gestores titulares das SMS e 1/3 por assessores).
De acordo com Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e ex-presidente do COSEMS/SP, trata-se de um número de respostas muito significativo, que raramente se obtém numa pesquisa científica desta natureza. “Este sucesso se deve, fundamental, ao apoio que obtivemos da diretoria e da equipe técnica do COSEMS-SP”, explicou.
O objetivo da pesquisa é analisar as produções, invenções e desafios na gestão do cuidado implementadas pelas redes de atenção à saúde no Estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia da COVID-19, com ênfase na atenção básica, e apresentar proposições que possam aprimorar a capacidade de resposta do SUS. Saiba mais sobre a pesquisa em: .
Chioro respondeu à reportagem do COSEMS/SP e atualizou a situação da pesquisa. Confira:
COSEMS/SP: A segunda fase já foi iniciada?
Chioro: Ainda não. Estamos finalizando a análise das respostas aos questionários enviadas por 15 Departamentos Regionais de Saúde. Com o relatório técnico completo, a partir dos 4 eixos de análise – Gestão; Atenção à Saude ; Vigilância à Saúde; e, Vulnerabilidades – pretendemos concluir a primeira fase e dar início à seguinte.
COSEMS/SP: Como será realizada a segunda fase? Poderia citar um exemplo de trabalho bem-sucedido na AB?
Chioro: Na segunda etapa será realizado o mapeamento dos arranjos de gestão do cuidado produzidos como resposta à pandemia de COVID-19, a partir de oficinas e entrevistas semiestruturadas com gestores regionais e municipais de saúde, caracterizando a participação específica da atenção básica no enfrentamento da COVID-19 e as estratégias implementadas para populações em situação de vulnerabilidade social. Pretende-se ainda averiguar, também, as relações com o setor privado.
Serão escolhidas para análise em profundidade duas regiões de saúde, uma no interior e outra na Região Metropolitana de São Paulo. A definição será feita ainda esse mês, em comum acordo com a SES-SP e o COSEMS/SP, pois queremos iniciar a fase de campo ainda em abril. Temos diversos indicativos de municípios que implementaram novos arranjos, ações inovadoras, que se apresentam como ações muito interessantes para serem analisadas em profundidade. Alguns gestores indicaram a adoção de ações de âmbito regional, e essas merecem ser destacadas.
De qualquer forma, a resiliência, alto grau de adaptação e a plasticidade dos arranjos já é perceptível desde a primeira fase da pesquisa, ainda que não permita analisá-los com o grau de aprofundamento necessário.
COSEMS/SP: Existe perspectivas das propostas para a AB, por meio do que foi apresentado na pesquisa?
Chioro: Os impactos da pandemia na Atenção Básica foram expressivos. Em 32% dos municípios houve ampliação do horário de funcionamento das UBS. Em relação ao atendimento aos sintomáticos respiratórios pelas UBS durante a pandemia, em 44,3% dos municípios os casos foram atendidos em todas as UBS, com fluxo assistencial interno específico para COVID-19. Um número expressivo de municípios destinou uma ou mais UBS para o atendimento exclusivo aos quadros de sintomáticos respiratórios (36,9%). Os casos sintomáticos respiratórios não foram atendidos nas UBS em (31%). Só em uma minoria (5,1%) os casos foram atendidos em todas as UBS, sem alteração do fluxo assistencial interno. Isso revela o padrão de heterogeneidade, com múltiplos arranjos, indicando que houve significativa reconfiguração da atenção básica para a resposta à COVID. Não se pode deixar de considerar, todavia, que em 30,98% dos municípios os sintomáticos respiratórios não foram atendidos nas UBS.
Muitas ações de rotina das equipes da Atenção Básica foram interrompidas ou prejudicadas pela pandemia de COVID-19; os principais prejuízos foram observados em relação aos atendimento/procedimentos odontológicos (n=226; 88,63%), grupos de gestantes, hipertensos, diabéticos e outras atividades de educação em saúde (n=193; 75,69%) e na realização de visitas domiciliares (n=178; 69,80%). Em um segundo plano podem ser destacados prejuízos ou interrupções no cuidado a usuários com outras doenças crônicas (n=127; 49,8%) e no cuidado às crianças de 0 a 2 anos (n=64; 25,10%), extremamente preocupantes para a saúde da comunidade.
O prejuízo das ações ou a interrupção das Visitas Domiciliares, Grupos e Atendimentos Odontológicos, somada aos prejuízos no cuidado a usuários com outras doenças crônicas, crianças e ações de pré-natal e puerpério, expressam o quão os cuidados prestados pela Atenção Básica foram impactados. Ainda que um número significativo de UBS tenha mantido ou aumentado o horário de funcionamento, suas ações típicas sofreram interrupções ou prejuízos que impactam sobre as condições de saúde da população.Daí a importância de analisar as estratégias adotadas pelos municípios no âmbito da Atenção Básica para enfrentamento da COVID-19.
As ações de busca ativa (presenciais ou por telefone/virtuais) para investigação e monitoramento dos casos de COVID-19 e contactantes foram adotadas em 234 municípios (92%). A identificação e acompanhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade com suspeitas (ou casos) de COVID-19 foram indicadas por 161 gestores (63%). O acolhimento a demandas relacionadas à saúde mental decorrentes da pandemia aconteceu em 148 cidades (58%) e 144 munícipios destacaram que realizaram ações de educação em saúde sobre a COVID-19 e formas de prevenção, grupos educativos (presenciais ou à distância) (n=144; 56,5%). Teleatendimento para diagnóstico e monitoramento de casos suspeitos de COVID-19 aparece com peso significativo, ainda por ser tratar de ação que não contava com um volume de experiências expressivas anteriormente e forte oposição das entidades médicas. Indicada como tendo sido realizada por 139 municípios (54,51%), constitui-se em uma “novidade” que deve ser considerada e melhora avaliada na fase 2, ainda mais por também ter sido aplicada em outras ações mais tradicionais. Ações intersetoriais para enfrentamento da COVID-19, com equipes de outras secretarias, instituições, parcerias com comércio local, associação de moradores, entre outras, aconteceram em 134 municípios (52,55%).
Em relação ao cuidado no âmbito da Atenção Básica desenvolvidas para as demandas não COVID-19, um número significativo de municípios apresentou estratégias, com destaque para ações de busca ativa por telefone/virtuais para investigação de outros problemas de saúde (n=127; 49,8%), teleatendimento para diagnóstico e monitoramento de outros problemas/demandas de saúde (n=91; 35,7%) e grupos educativos por videoconferência (exemplo: Diabetes, Gestantes, Hipertensos) (n=37; 14,5%). Merece ser destacado que 68 municípios (26,7%) indicaram o item “outras” (não categorizadas), o que ensejará análise pormenorizada na fase 2 da pesquisa. Trata-se de um número expressivo e que pode conter inovações de estratégias para casos não COVID-19.
Uma questão relevante, a ser analisada na fase 2 do estudo, é o quanto as mudanças no Programa Mais Médicos e na própria Política de Atenção Básica podem ou não ter interferido na resposta na Atenção Básica ao enfrentamento da pandemia.