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A pandemia da COVID-19 transformou rapidamente o cenário mundial em seus diversos aspectos, como o econômico, o social e o da Saúde, é claro. Adaptações a esta nova realidade estão sendo implementadas diariamente no setor Saúde com o intuito de um melhor entendimento do perfil do Novo Coronavírus, como a doença se propaga e quais estratégias devem ser adotadas por parte da gestão e profissionais para que se consiga reverter o quadro atual.
Diante disto, é preciso entender os conceitos, critérios e plataformas utilizadas como base para analisar variados cenários encontrados no país e estabelecer estratégias para seu enfrentamento.
Brigina Kemp, assessora técnica do COSEMS/SP explica abaixo alguns conceitos e plataformas de notificação utilizadas para análises da pandemia. Ao final, uma breve explicação do “Simulador de Casos e Leitos Hospitalares- COVID-19” para uso dos municípios do estado de São Paulo, que permite o monitoramento de casos de COVID-19 nas regiões e municípios.
Acesse a apresentação de Brigina Kemp – Análise Epidemiológica e Alinhamento de Conceitos Covid19 -CRR agosto 2020
O que é e qual a SevipGripe e e-SUS Notifica? Qual desses sistemas é mais consistente?
SivepGripe é um sistema de notificação criado para a Vigilância da Influenza. Ele registra os casos de SRAG internados e de óbitos. Portanto, é um sistema de informação que vem sendo utilizado por vários anos. Desde o começo da pandemia recebe registro de casos suspeitos e que mantem o modo de investigar.
Já o e-SUS Notifica foi desenvolvido em meio a pandemia de COVID19, e recebe notificações de síndrome gripal. O e-SUS notifica tem mostrado instabilidade, dificuldade para digitação, dificuldade para emissão de relatórios, portanto, seu manejo pelas equipes locais torna-se difícil, por exemplo, na dificuldade para limpeza de duplicidades. É um banco que apresenta muitos casos sem conclusão, dado pela política de investigação de casos de SG orientado pelo ministério da Saúde.
Este sistema tem recebido registro de casos testados em inquéritos ou em ações de testagem em massa. Então, é uma base de dados que mistura casos e não casos. É uma base de dados importante e necessária, mas deve ser trabalhada com muita atenção. A análise de dados por esta fonte deve ser feita com muito cuidado. O SIVEPGripe, neste momento, se apresenta como um sistema de informação mais consistente, mais estável, do ponto de vista de casos notificados e concluídos.
Qual a diferença e importância entre data da notificação (data administrativa) e data de início de sintomas (data epidemiológica)?
Para avaliar a ocorrência de casos no tempo, em uma série temporal, observar as modificações da curva (aumento, manutenção ou diminuição), é necessário trabalhar com uma data que demostre a ocorrência de fato desses casos num determinado tempo.
Assim, uma data possível de se obter é a data de início de sintomas, que se aproxima da data que o indivíduo pode ter se infectado. Este fato é que pode indicar como a doença está sendo transmitida entre as pessoas num dado tempo.
Por sua vez, a data da notificação demonstra a data que o indivíduo foi notificado, e que pode ser tardia em relação à ocorrência de fato da transmissão e aparecimento dos sintomas. Por isto é que podemos dizer que a data de primeiros sintomas é uma data epidemiológica e de notificação é uma data administrativa, ou seja, a data da notificação é uma data de registro e não de ocorrência.
O que é e qual a utilização do Nowcasting?
Nowcasting é uma ferramenta estatística que permite corrigir o atraso no sistema de notificação da doença. É um método utilizado para estimar os casos que estariam ocorrendo no momento caso não houvesse um intervalo entre a data de início de sintomas e a data de digitação caso, se não houvesse atraso entre o conhecimento do caso e o registro no sistema de informação.
Assim, o nowcasting corrige o atraso entre a data de início de sintomas e a data de digitação (que é a data em que a vigilância toma conhecimento do caso), e ainda faz uma modelagem para estimar os casos que teriam o início de sintomas no momento.
Esta ferramenta tem sido importante na pandemia de influenza, pois ajuda a estimar com maior precisão a tendência da curva de casos. É necessário tem um programa estatístico para utilizar esta ferramenta.
Qual a relevância da média móvel de casos?
É importante para demonstrar a tendência de uma série temporal. Quando uma série de casos apresentada ao longo de um tempo (dias, semanas, meses) demonstra muitas irregularidades, ou seja, picos elevados seguidos de fossos, é comum “alisá-la” através de médias móveis. Permitindo então, observar sua tendência com maior facilidade.
O que significa R0 e Re?
R0, significa Número Reprodutivo Básico. É um parâmetro utilizado para avaliar a intensidade de transmissão de uma doença infecciosa, demonstra o número médio de novos infectados, a partir de um indivíduo doente.
O Re significa Número Reprodutivo Efetivo, que também significa a média de pessoas contaminadas por um infectado.
A diferença entre eles é que o R0 representa de uma população sem imunidade à doença, ou seja, é um parâmetro do início de uma transmissão, enquanto o Re é utilizado quando já existe um determinado número de pessoas que já se infectaram e possuem imunidade.
Valores maiores que 1: número de novos casos está aumentando. Valores próximo de 1: número constante de casos. Valores abaixo de um: tendência de redução no número de casos.
Para dizer que a tendência é de redução, este parâmetro menor que 1 deve estar se mantendo por vários dias, mínimo de 15 dias. Portanto, sua determinação permite a compreensão da dinâmica da propagação da doença e traçar estratégias para o controle da mesma.
A análise comparativa é realizada com diversos dados. Como pode auxiliar na tomada de decisão dos gestores?
Nesta pandemia é possível encontrar muitas fontes de dados, muitos sites que oferecem simuladores e ferramentas de cálculos. Sempre é muito importante saber a base de dados e o método que é utilizado para os dados, tabelas e gráficos que são apresentados. Bem como ter informações sobre a equipe que trabalha para fornecer os dados e as simulações. As fontes oficiais devem ser sempre uma fonte de informação, mesmo assim, é importante atentar para os parâmetros e métodos utilizados, pois isto é que vai permitir uma correta análise do que é apresentado.
Por exemplo, se a série temporal é feita a partir da data de notificação ou de início de sintomas. Isto pode fazer diferença. Comparar dados também é importante, pois agrega informações, que em um conjunto, vão auxiliar as tomadas de decisão. As bases de dados locais são fundamentais para apoiar o gestor. A equipe de vigilância e de assistência, com suas informações cotidianas, suas observações de campo, da dinâmica que percebem no território, de uma investigação em curso, são tão valiosas ou mais, para apoiar a análise para tomada de decisão compondo com os dados de um sistema de informações ou os cálculos estatísticos. Portanto, vários indicadores e análise de contexto devem ser utilizados.
O COSEMS/SP tem buscado estratégias para apoiar os gestores nesse momento crucial em que o Plano São Paulo aponta medidas de flexibilização do isolamento social, com as curvas ainda crescentes de casos novos e óbitos no estado.
Uma dessas estratégias é a utilização da ferramenta “Simulador de Casos e Leitos Hospitalares- COVID-19” para uso dos municípios do estado de São Paulo, que permite o monitoramento de casos de COVID-19 nas regiões e municípios.
Essa ferramenta, desenvolvida pelo Departamento de Engenharia de Produção e do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Laboratório de Tecnologias de Apoio à Decisão em Saúde (LABDEC), permite o monitoramento de casos de COVID-19 nos estados e municípios brasileiros e apresenta uma modelagem matemática para estimar a transmissão do vírus em momentos futuros e a disponibilidade de leitos UTI e de enfermaria de clínica médica nos estados em cada período, bem como os impactos das políticas de distanciamento social nesse processo.
A ferramenta encontra-se disponível para acesso pelo link https://labdec.nescon.medicina.ufmg.br/webcovid19/
Neste sentido, o COSEMS/SP firmou uma parceria com os pesquisadores do LABDEC visando a customização da ferramenta, o que possibilitou sua utilização pelos territórios dos Departamentos Regionais de Saúde (DRS) da SES/SP. Essa ferramenta será enviada semanalmente e-mail aos gestores municipais, com atualização de número de casos e leitos.
Essa atualização utilizará como fonte de dados dos casos novos de COVID-19 os Boletins do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE/SES-SP), disponíveis na página do SEADE (https://www.seade.gov.br/coronavirus). Para o número de leitos de UTI e Clínica Médica SUS a fonte é o Mapa de Leitos do Estado São Paulo e para os leitos não SUS a fonte é o CNES. Tais atualizações visam ajustar o modelo matemático utilizado e aumentar a capacidade de previsão.
Os parâmetros utilizados para as estimativas têm referências internacionais e científicas publicadas para tempo de internação dos pacientes, número de novos casos e percentual da população infectada. As premissas também podem ser mudadas e validadas pelos gestores e profissionais da saúde.
Acesse aqui as atualizações proporcionadas pelo simulador e divulgadas pela equipe do COSEMS/SP –