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No último mês o COSEMS proporcionou encontro entre especialistas e diretores para discussão e análise das perspectivas da pandemia da COVID-19 no estado de São Paulo, assim como a situação da presença da variante Delta e seus impactos na população.
Foram convidados Renato Coutinho, professor da UFBAC e membro do Observatório COVID-19 BR, Nancy Bellei, infectologista-virologista da UNIFESP, Maria Amélia Veras, epidemiologista e membro do Observatório COVID-19 BR e Lorena Barberia, professora do DCP-USP, pesquisadora principal do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais (NECI) da Universidade de São Paulo e pesquisadora principal do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (CEPESP).
Na ocasião foram duas horas de análises e apresentações que proporcionaram reflexões e debates de relevância para o entendimento das tendências e panoramas da pandemia no estado.
Após o encontro, preparamos algumas questões aos participantes que trazem pontos importantes para discussão.
Maria Amélia Vera – Como você avalia este momento atual da Pandemia no estado no contexto da abertura das atividades? Você tem alguma sugestão no âmbito técnico-político para o COSEMS/SP e municípios?
Sentimentos contraditórios: de um lado a alegria de ver retomadas atividades muito importantes para a nossa vida, poder reencontrar amigos, ver a retomada das atividades artísticas, atividades presenciais na educação…isso tudo é muito bom e alimenta as nossas esperanças.
Por outro lado, creio que vivemos um processo quase que de negação que riscos persistem, que apesar de estarmos avançando na vacinação, mais da metade da população-alvo das vacinas ainda não tem duas doses, que variantes podem continuar emergindo.
Neste sentido o desafio para as áreas técnicas e gestores é fortalecer ações de vigilância e uma comunicação transparente e clara, sobre os riscos. Não é tudo ou nada!
Lorena Barberia – Qual avaliação você faz sobre as atividades de sequenciamento de variantes no estado de São Paulo e qual seria a proposta de avanços?
Os esforços de sequenciamento precisam estar ligados a uma estratégia de testagem e medidas de isolamento de casos suspeitos. Nos países onde sequenciamento é parte da vigilância vemos um aumento de testes de diagnóstico com RT-PCR quando são detectados aumentos expressivos de casos com uma variante de preocupação.
Infelizmente no caso de São Paulo não vemos que o programa de testagem está sendo fortalecido e aumentado na medida que surgem variantes. O sequenciamento precisa ser integrado no programa de testagem.
Nancy Bellei – Você acha que a variante Delta apresenta um risco muito aumentado de crescimento de casos e óbitos de COVID-19?
A presença da variante é muito dependente no impacto, no encontro que ela tem de uma população que já foi infectada anteriormente por uma variante como a nossa, a variante Gamma, que teve seu predomínio no Brasil, mas não em países como Israel, na Europa, Estados Unidos, onde a Delta encontrou uma população que não tinha tido uma circulação anterior como a variante Gamma. Este fato pode contribuir para que pessoas anteriormente e recentemente infectadas com a Gamma possam funcionar como uma barreira.
O segundo ponto, e muito importante, é que aceleramos muito a vacinação nos últimos dois meses. E mais ou menos neste momento que a Delta entra no país, encontra uma população em grande número vacinada, principalmente a população que mais se expõe, que é o adulto jovem, isso está claro em todas as casuísticas. Além dos estudos recentes publicados ou em pré-publicação, mostram que todas as vacinas, e principalmente as de maiores eficácias, como a da Pfizer, a Moderna, a de Oxford/Astrazênica e mesmo a Coronavac, nos dois e três primeiros meses se obtém títulos (anticorpos) elevados. É o que precisamos para combater a Delta, pois se trata de uma variante onde todas as vacinas possuem menor efetividade. A efetividade/ eficácia da vacina é tempo dependente.
Estudos como do grupo Fleury e outros, mostram que uma parcela razoável da população da cidade de São Paulo já tinha se infectado por COVID-19.
E por outro lado, chegamos em um momento em que grande parte da população de 20 a 50 anos de idade foi recentemente vacinada. Com isso temos uma barreira importante. A nossa velocidade de imunização, que no início foi muito aquém do desejado, e que neste momento se encontra vacinando muita gente, felizmente faz com que a entrada da variante Delta encontre muita gente com títulos altos, títulos de anticorpos, logo após primeira e segunda dose.
Neste sentido, podemos observar que a entrada da Delta no país não ocasionou um aumento no número de casos. Pelo menos é que estamos sentindo dia a dia aqui na cidade de São Paulo.
Nancy Bellei – A variante Delta vai se tornar predominante?
Nos parece que sim. A variante Gamma se tornou predominante também. Isso é modelo de evolução viral, onde temos várias variantes ao mesmo tempo, mas devido a capacidades intrínsecas e características de cada variante, há um efeito que, traduzindo em português, a gente chama de gargalo, onde temos uma série de variantes virais e acaba predominando uma devido a características virológicas daquela variante.
Predominar não significa ter grande número de casos. Nos casos encontrados podemos ter a variante.
Nancy Bellei – As vacinas protegem contra esta variante Delta?
Com relação à eficácia das vacinas, as que necessitam de duas doses, como Pfizer, Moderna, Oxford/Astrazênica e Coronavac, existe boa efetividade contra hospitalização e óbito.
Para pacientes com sintomas (leves) apenas a efetividade já cai. Mas existe uma efetividade em torno ou acima de 50%, pelo menos nos estudos com a Pfizer, Moderna e Oxford/Astrazênica.
Precisamos de mais estudos com a Coronavac, em pacientes infectados, sintomáticos leves, com a variante Delta.
Lembrando que todas as vacinas, com o passar do tempo a produção dos títulos de anticorpos cai e por isso se discute depois de seis/oito meses se realizar uma terceira dose, principalmente nos grupos mais vulneráveis.