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A cada dia o SUS mostra sua força e ampla capacidade de atendimento à população brasileira. A prova do esforço e determinação das equipes de Saúde é o reconhecimento deste trabalho municipal nas Mostras de Experiências Exitosas por todo o país. Anualmente os COSEMS promovem espaços para que os municípios possam apresentar inúmeras experiências exitosas que acontecem na ponta do sistema. As mostras representam um universo recheado de boas práticas no SUS.
Muitos destes trabalhos participam da Mostra nacional denominada: Mostra Brasil, aqui tem SUS, que em 2022 chegou a sua 17ª edição. O estado de São Paulo levou ao XXXVI Congresso do CONASEMS mais de 40 experiências municipais. Todas foram selecionadas durante o 35º Congresso do COSEMS/SP, na 18ª Mostra de Experiências Exitosas dos Municípios paulistas e o 11º Prêmio David Capistrano.
Foram premiados os municípios: Assis, Bauru, Catanduva, Juquiá, Santana de Parnaíba, Santo Andre, São Bernardo do Campo, São Paulo e Suzano. O maior destaque ficou para o trabalho de Santo Andre, ‘Reduzindo danos e protegendo vidas – cuidado às gestantes em situação de rua, usuários de spa, de Antonio Rinaldo’, que conquistou três prêmios este ano. Confira os trabalhos premiados na mostra nacional – https://www.cosemssp.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Apresentac%CC%A7a%CC%83o-Premiac%CC%A7a%CC%83o-Mostra-FINAL.pdf
Além da conquista do 11º Prêmio David Capistrano em março de 2022, celebrado pelo COSEMS/SP, o trabalho de Santo Andre conquistou mais dois prêmios durante a 17ª Mostra Brasil, aqui tem SUS. São eles: 3º Prêmio Atenção Primária Forte: Caminho para a saúde universal, organizado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) / Organização Mundial de Saúde (OMS) e uma premiação regional, o 1º IDEIASUS – Fiocruz é SUS: Direito universal à saúde, equidade e democracia.
Nos últimos nove anos, no município de Santo Andre, as equipes de Saúde acompanharam 33 gestantes em situação rua. O objetivo da gestão municipal de Saúde sempre foi garantir o direito à maternidade às mulheres em situação de rua, promovendo a saúde da mãe e do feto, através da integralidade do cuidado, do direito ao pré-natal, da equidade, respeitando o desejo de permanecer em situação de rua.
Acesse o vídeo da experiência premiada em nosso canal do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=heGnAptAowo
A unidade de Consultório na Rua (CR) foi implantada em 2013, sendo oriunda da equipe de Redução de Danos. Atualmente conta com uma equipe de Modalidade III, composta por médicos clínicos, terapeuta ocupacional, psicóloga, assistente social, enfermeira, técnica de enfermagem e agentes redutores de danos. Os atendimentos funcionam de segunda à sexta-feira, das 08h às 17h, sob gestão da coordenação da Saúde Mental do município.
“Todos os profissionais que compõem a nossa unidade se envolveram na experiência, são ao todo nove pessoas, Antônio Rinaldo Pagni, encarregado técnico; Carla Leonel Rocato, psicóloga; Daniel Felix Valsechi, médico; Deborah de Oliveira Mancuso, médica; José Félix de Oliveira, agente redutor de danos; Luciano Soares Amaral, motorista; Maria do Carmo do Nascimento Dias, técnica de enfermagem; Maureen de Alencar Filone, enfermeira; Tatiana Christine da Silva, encarregada administrava”, descreveu Antônio Rinaldo Pagni.
Segundo o autor, se trata de um período de mais de um ano acompanhando essas gestantes, outros profissionais que compuseram a equipe anteriormente, também participaram desse cuidado. Além disso, os profissionais de outros serviços, participaram tanto diretamente do cuidado, quanto da articulação e da construção da rede de cuidados.
Pagni explicou que foram utilizadas diversas estratégias para encontrar as gestantes em situação de rua. “A maioria possui vínculo com a equipe e fazemos o teste de gravidez, caso elas relatem suspeita. Mas em alguns casos somos informados por outros serviços da rede de Saúde municipal, como, por exemplo, as Unidades de Atenção Primária, CAPS, Unidades de Urgência e Centros de Especialidades ou pelos serviços da Rede de Assistência Social, CRAS, CREAS e Centro Pop. Já tivemos um caso em que fomos avisados pela Equipe de Consultório na Rua de São Bernardo do Campo, nossa cidade vizinha”.
Dados coletados
Ao longo de nove anos foram registrados, por meio da base de dados do E-SUS:
– 00 casos em 2013
– 08 casos em 2014
– 04 casos em 2015
– 03 casos em 2016
– 06 casos em 2017
– 00 caso em 2018
– 08 casos em 2019
– 03 casos em 2020
– 01 caso em 2021
A partir desses acompanhamentos, em 2019, a equipe do CR e o Hospital da Mulher “Maria José dos Santos Stein” repactuaram e fortaleceram o fluxo de atendimento e cuidado às gestantes em situação de rua no município, reafirmando que todas são consideradas gestantes de alto risco por apresentarem alta vulnerabilidade social.
Em 2021, através dos Encontros de Qualificação do Cuidado às Gestantes, este fluxo de cuidado foi novamente abordado, revisto e consolidado, envolvendo diversos atores como Atenção Básica, NASF, Apoio de Território, Saúde Mental e Hospital da Mulher.
Trabalho premiado e resultados
Nos últimos dois anos, 2020 e 2021, a equipe do CR acompanhou duas gestantes que desejaram permanecer em situação de rua. Para realizar esse acompanhamento, optaram em seguir os protocolos pré estabelecidos com os serviços da rede, mantendo o CR como ordenador do cuidado, vinculando as gestantes às Unidades de Saúde do território, para que tivessem uma retaguarda fixa e próxima, além de fazer o acompanhamento ginecológico e exames no Hospital da Mulher.
Uma das gestantes, negra, 36 anos, HIV +, acompanhada pelo Centro Médico de Especialidades Referência em Infectologia (CME) que estava em situação de rua. No início dos atendimentos a carga viral encontrava-se alta. Com a adesão da gestante à terapia farmacológica foi possível alcançar a carga viral “indetectável”.
Para isso, em alguns momentos, o CR e o CME garantiram o acesso à medicação, entregando para ela no território de vida e circulação. Todo o pré-natal foi realizado seguindo integralmente o protocolo do ministério da Saúde, incluindo a realização da coleta de exames laboratoriais na rua. A gestante recebeu cuidados do CAPS AD, ficando em Acolhimento Integral por quatro dias; da UBS; do CME; Hospital da Mulher; CREAS e Centro Pop, optando por permanecer em situação de rua e manifestando o desejo de “maternar”.
A outra gestante foi atendida pela primeira vez: negra, 34 anos. Relatou estar gestante, apresentando o teste de gravidez realizado pela ESF da UBS de sua referência territorial. O CR, com o apoio da ESF e do Hospital da Mulher, iniciou o pré-natal no primeiro trimestre da gestação.
O Projeto Terapêutico contemplou: as demandas psicossociais, o restabelecimento do vínculo familiar, a avaliação de riscos e danos, orientações e ações de saúde, tratamento da sífilis da mãe e do bebê, ultrassonografias, avaliações de desenvolvimento, entre outros cuidados.
Durante este período a gestante manteve o desejo de “maternar” sua filha, decidindo cessar o uso de substâncias psicoativas sem o apoio do CAPS AD, mas sob o acompanhamento do CR, enquanto reduzia lentamente o seu consumo até a interrupção total. Todo o pré-natal, os diagnósticos e tratamentos ocorreram ainda em situação de rua, pois não desejava sair do território em que vivia.
Ambas as gestantes tiveram o direito a maternidade, com acompanhamento e cuidados garantidos, mesmo em situação de rua. Seus respectivos partos foram realizados no Hospital da Mulher, em tempos de gestação favoráveis (a termo), sem apresentarem possíveis complicações congênitas devido ao diagnóstico de HIV ou de sífilis.
O vínculo das gestantes com a família foi reconstituído durante o pré-natal. Positivamente, a equipe do CR teve o êxito em adiantar o processo burocrático para a realização da laqueadura de uma das mães, conforme seu desejo e solicitação, que está em espera para o agendamento e sua realização.
“Confesso que receber o Prêmio David Capistrano, já foi uma surpresa. Afinal, apenas descrevemos o nosso cotidiano. Acredito que garantir saúde à população, dentro dos princípios norteadores do SUS, é nossa função como profissionais de saúde e garantir o acesso a rede de cuidados, é a essência de toda Unidade de Consultório na Rua. Já o reconhecimento nacional foi incrível, ver profissionais de saúde de todo o país nos aplaudindo em pé, sabendo que todos também sofreram durante a pandemia e que apresentaram trabalhos espetaculares de cuidados no SUS me comoveu muito. Tenho certeza de que isso ampliará e facilitará o acesso, não só das gestantes, mas também de todas as pessoas em situação de rua. Pois conseguimos divulgar nacionalmente, os benefícios de seguir o desejo das pacientes e utilizar o cuidado em liberdade e a redução de danos como norteadores”, destacou Pagni.
De acordo com o autor, as expectativas são muito positivas, a possibilidade de conhecer experiências de organização de redes de saúde em outro país, ofertada pela OPAS, e de receber por um ano o apoio da Fiocruz, ajudará a aprimorar o trabalho e ampliar a efetividade do cuidado à população de Santo Andre.
Autores: Antônio Rinaldo Pagni, Carla Leonel Rocato, Daniel Felix Valsechi, Deborah de Oliveira Mancuso, José Félix de Oliveira, Maria do Carmo do Nascimento Dias, Maureen de Alencar Filone, Tatiana Christine da Silva