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Os moradores de áreas livres são um público crescente na cidade, o qual vai além da segurança pública e da visão higienista. Perderam o emprego, a casa, os vínculos familiares, muitos o sentido da vida, outros são egressos do sistema prisional, e/ou antigos manicômios, ganharam as áreas livres e assim sobrevivem, agravando doenças físicas e mentais, e perdendo a identidade e dignidade. É um tema de vasta bibliografia e implica que é preciso fortalecer o trabalho integrado, a transversalidade das politicas públicas, o diálogo do cuidado, visto que cada vez é maior o desafio de como monitorar, acolher e pensar os cuidados adequados para esta população crescente, ainda sem visibilidade e muito hostilizada. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) informa os dados (jul/23) no Brasil 221.113 mil pessoas na rua, um aumento de 935% em 10 anos. O (MDHC) traz o município de Guarulhos com 1.182 pessoas até (jul/23). Dados do CadÚnico de Guarulhos, traz a autodeclaração da situação de rua, (jul/19) de 850 e (jul/24) um total de 2.202 pessoas. Considerando-se isso, fortalecemos o presente trabalho no Pronto Atendimento Paraventi para o diálogo do cuidado junto a rede protetiva e de direitos, e na oferta de um serviço acolhedor, humanizado, ético e multiprofissional durante o atendimento de urgência/emergência e no pós alta, articulando os cuidados conforme a necessidade de cada caso, vinculando ao tratamento preventivo ou curativo, mitigando sequelas e evolução ao óbito.
Valorizar a saúde da população moradora de áreas livres atendidas no Pronto Atendimento Paraventi, como um direito humano e de cidadania, independentemente das condições pessoais, de higiene, uso de substâncias psicoativas ou falta de documentos, mas com o direito de serem acolhidas com humanização no SUS. Acolher com humanização, ética e multiprofissional os moradores de áreas livres atendidos no serviço do Pronto Atendimento Paraventi, identificando seus agravos de saúde e necessidades de cuidados, melhorando a qualidade de vida e o plano de cuidados adequados; Fortalecer o diálogo do cuidado integrado entre as redes de promoção e proteção, vinculando o início ou a continuidade ao tratamento preventivo ou curativo e o resgate da cidadania; Compartilhar com a UBS, Centro de Testagem e Acolhimento, CAPS, Consultório na rua, Redes de Atenção em Saúde, casa de passagem, equipe de abordagem social ou Creas Pop, para o acompanhamento integrado e continuado;
Trata-se de um estudo retrospectivo, analítico, de uma amostra representativa da população de área livre, autodeclarada de 25 pacientes, atendidos no Serviço Social e equipe multiprofissional do Pronto Atendimento Paraventi, de ago/23 a ago/24. Na análise de dados, foram retratados o perfil dessa população estudada, principais queixas da procura no Pronto Atendimento Paraventi, fatores de risco e mortalidade. Durante os atendimentos realizamos escuta qualificada para melhor compreensão da saúde, vínculos familiares e comunitários, planos de vida, e orientação, bem como, feitos relatórios e compartilhado com a UBS, Centro de Testagem e Acolhimento, CAPS, Consultório na Rua, Redes de Atenção em Saúde: Rede AB (Atenção Básica), RADH (Rede de Atenção aos Direitos Humanos), RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), Vigilância epidemiológica, casa de passagem e equipe de abordagem social, para o acompanhamento integrado e continuado, assim potencializando a travessia das áreas livres para espaços protegidos e efetivos na garantia dos direitos e da cidadania, conforme a demanda de cada caso. Através do estudo, esperamos dar continuidade à assistência em saúde e à transversalidade do cuidado entre os serviços da Rede Socioassistencial, bem como vincular ao tratamento preventivo ou curativo, mitigar sequelas e evolução ao óbito.
Na pesquisa, foram encontrados 25 pacientes (20 homens e 5 mulheres), atendidos multidisciplinar no P.A Paraventi. O perfil retrata, maioria homens, pardos/negros, ensino básico, conflitos familiares, maioria dependente de SPA, (Crack, cocaína, maconha, drogas K, cachaça), com média de tempo na rua, 2 a 5 anos, 11 natural de Guarulhos, 3 Capital SP, 2 interior SP, 9 de outros estados (BA, PR, PE, PB, MG, RJ), poucos em serviços de acolhidas ou com pernoite breve, com preferência da permanência na rua. Analisando a busca do atendimento no PA, é maior o sexo masculino, principais queixas foram: HAS 6, DM 5, pé diabético: 1, erisipela: 2, úlcera MID com miíase: 1, Neoplasia: 1, IST: 4, TB 2, cardiovascular 3, BCP/PNM 2, drogas 15, álcool 19, esquizofrenia: 4, ferimento: 1, dor aguda: 8, convulsão:1, DPOC: 1. Desses, 24% foram a óbito na UE, número significativo: Homem 5, Mulher 1: (H): 49 anos, abuso de álcool, Hemorragia pâncreas, úlcera MID com miíase. (H): 56 anos, abuso de álcool, BCP. (M): 46 anos, abuso cocaína/álcool, IAM, cardiomiopatia obstrutiva hipertrófica. (H): 70 anos, TB Pulmonar. (H): 39 anos, abuso cocaína/crack, ICC, PNM. (H): 21 anos, abuso drogas K, atropelamento. Através de relatórios compartilhados com UBS, CAPS, CnaR, redes de atenção em saúde, SEAS e equipamentos de acolhidas, inserimos no acompanhamento 25 pacientes, número significativo e de desafios, na efetividade dos cuidados, se tratando de população com alta vulnerabilidade e risco de mortalidade.
Na cidade de Guarulhos, o número de moradores de áreas livres cresceu 159.06% de 2019 a 2024, saltando de 850 para 2202 pessoas até (jul-24) pelos dados do Cadúnico da Secretaria de Assistência Social do município. Já os dados mais recentes do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) são 1.200 pessoas em situação de rua/vulnerabilidade até (dez-2023). No Consultório na Rua são 1.110 prontuários abertos até 2024, sendo que 403 estão ativos em acompanhamento pelo serviço. Percebe-se a importância da análise do estudo, em um pequeno recorte observável, dos aspectos sociais, epidemiológicos, doenças não transmissíveis (DNTs), abandono do seguimento em saúde na maioria motivado no uso de substâncias psicoativas, e o alto índice de mortalidade nesse público. Existe uma dificuldade no acesso de dados sobre a saúde e mortalidade nessa população, dimensionado que os números devem ser bem mais elevados. É urgente o debate, garantir acesso e acolhimento, fortalecer a integração das redes de promoção e proteção, ter políticas públicas de inclusão social que vá além da visão higienista de limpeza urbana, e podem apenas esconder os problemas. O preconceito continua sendo um grande obstáculo para a garantia dos direitos dessa população.
UE, Morador de rua, acolhimento, Política Pública.
MARCELO CORDEIRO BARRETO DE OLIVEIRA, ANTÔNIA LUCILEIDE RODRIGUES FERREIRA, CAMILA CAETANO DE SOUZA, CRISTIANE SOLIMÃ CARREIRA GOBATTO, ELIETE SANTANA DE FREITAS, MARIA APARECIDA NUNES SAMPAIO JONES, RITA DE CÁSSIA ALVES BEZERRA