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A atuação do psicólogo hospitalar tem suas particularidades. O setting (espaço de atendimento) do psicólogo hospitalar é diferente daquele do psicólogo clínico. O profissional atua por meio de solicitação de interconsulta – que pode vir de qualquer membro da equipe (enfermeiro, médico, assistente social, etc.), ou por busca ativa – pois está atento aos discursos que circulam sobre as reações psicológicas de pacientes e familiares. É ele que vai ao encontro do paciente – e da família, colocando-se disponível para o cuidado. O paciente pode aceitar ou não o atendimento. O atendimento psicológico costuma acontecer à beira do leito, mas também pode acontecer no corredor, na recepção, entre outros espaços. É focado no processo saúde-doença e nos conteúdos subjetivos que emergem na internação. E costuma ser breve. O psicólogo pode continuar ou encerrar o acompanhamento do paciente durante a internação conforme a sua avaliação; e realizar encaminhamentos se julgar necessário. Duas unidades que o psicólogo hospitalar pode atuar são a maternidade e o pronto-socorro ginecológico. Segundo Queiroz et al. (2020), atualmente a demanda por profissionais da psicologia no ambiente hospitalar torna-se crescente, e com isso, surge a necessidade de estudos para ampliar o conhecimento desse profissional sobre o contexto (no intuito de orientar a sua conduta) e para contribuir para a concretização do espaço de atuação.
Descrever um caso que exemplifica a atuação do psicólogo hospitalar na maternidade e no pronto-socorro ginecológico. Trazer considerações sobre a atuação do psicólogo hospitalar na maternidade e no pronto-socorro ginecológico a partir do caso apresentado.
Trata-se de um relato de experiência de caráter qualitativo que traz considerações sobre a atuação do psicólogo hospitalar na maternidade e no pronto-socorro ginecológico. O presente trabalho se desenvolveu em um em um hospital no interior do estado de São Paulo, que conta com maternidade e pronto-socorro ginecológico. Na maternidade e no pronto-socorro ginecológico, as mulheres recebem suporte das especialidades Obstetrícia e Ginecologia. A Obstetrícia atende gestantes em qualquer fase do período gestacional, que apresentam queixas como dor abdominal, náuseas e vômitos, cefaleia e/ou sangramento vaginal. A Ginecologia atende mulheres, de qualquer idade, que apresentam queixas como corrimento vaginal, cólica menstrual, irregularidade menstrual e/ou dor pélvica. O psicólogo inicia o atendimento a partir de solicitação de interconsulta ou busca ativa. Os profissionais costumam chamar a Psicologia em situações de gestação inviável, aborto espontâneo, adoecimento/perda de um bebê, gestante e/ou puérpera com humor deprimido e ansiedade, gestante ou puérpera menor de 18 anos e violência. Realiza intervenções junto às mulheres, às famílias e à equipe multiprofissional. O estudo se desenvolveu entre 01 de janeiro de 2025 e 21 de fevereiro de 2025.
RELATO DE EXPERIÊNCIA Enfermeira solicitou interconsulta da Psicologia. Demanda: óbito fetal; paciente fragilizada. A psicóloga apresentou-se à paciente. Iniciou o atendimento buscando conhecer a sua história. L. narrou que tem 26 anos; sua bolsa estourou – com 34 semanas de gestação; sua gravidez era de risco e por isso foi atendida rapidamente; o filho R. nasceu e está bem, mas o filho C. estava com o cordão enrolado no pescoço e por isso não sobreviveu; percebe-se com vários sentimentos – tristeza pela perda do filho C. e felicidade pelo filho R.; foi a sua primeira gestação; encontra-se com uma das pernas inchadas e aguarda exame; há suspeita de trombose; quando está preocupada, costuma conversar com o marido e a mãe; a irmã ficou com ela no hospital no dia anterior; chegou a ver e se despedir do filho C.; tem buscado força no filho R. Mostrou-se chorosa. A paciente não apresentou alterações no exame psíquico. Apenas o humor estava hipotímico. Demonstrou boa compreensão do quadro; angústia existencial; uso do pensar no filho recém-nascido e do apoio familiar como recursos de enfrentamento; rede de suporte significativa, com familiares buscando apoiar-se mutuamente. A psicóloga acolheu as vivências, abordou o processo de luto e realizou o encaminhamento para Psicologia. Posteriormente, discutiu o caso com a equipe (trouxe sua avaliação e condutas; e os demais profissionais também puderam falar sobre as suas percepções). No dia seguinte, a paciente recebeu alta.
O presente estudo propiciou olhar para a atuação do psicólogo na maternidade e no pronto-socorro ginecológico. O psicólogo faz uso da sua principal ferramenta de trabalho: a escuta qualificada. O profissional, conforme o indivíduo avança em conteúdos subjetivos: realiza o exame psíquico (avaliação de aspectos como nível de consciência, orientação, humor, atenção, memória e pensamento); busca apreender informações (como idade, o que transcorreu até a internação, o que sabe sobre o quadro, família, como se percebe e o que lhe dá força); procura avaliar o nível de compreensão do quadro, o tipo de angústia, os recursos de enfrentamento e a rede de suporte; busca ampliar a percepção das vivências e potencializar o autocuidado. Após o atendimento, o psicólogo discute o caso com a equipe multiprofissional. Junto a esta, atua como um facilitador: auxilia a equipe a se aproximar da subjetividade das mulheres. Na situação de óbito fetal, o psicólogo realiza o acolhimento das percepções e angústias na perda de um filho. Santos et al. (2015) trazem que a morte de um filho pode ser demasiadamente penosa, pois junto ao filho, morrem também os sonhos e as expectativas que os pais tinham em relação a ele e tudo de si mesmos que ele representava.
Maternidade; Psicologia; Avaliação; Intervenção
ADRIANA BRUNA PINHEIRO DA SILVA, SOLANGE RODRIGUES ROSSONE, MARIA SILVIA DE ALMEIDA MELLO FREIRE