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Os CAPS são instituições destinadas ao atendimento de pessoas com sofrimento psíquico grave e/ou persistente, buscando sua reabilitação psicossocial através da estimulação da integração social, apoiando-os na busca de autonomia. A reabilitação psicossocial precisa contemplar os contextos da casa, trabalho e lazer. Nesta perspectiva, a reabilitação consiste em um conjunto de estratégias capazes de resgatar a singularidade, a subjetividade e o respeito à pessoa com sofrimento psíquico, proporcionando-lhe maior autonomia e qualidade de vida. No contexto da Reforma Psiquiátrica brasileira, a autonomia é construída na relação com o outro, em um exercício de compartilhamento de diferentes pontos de vista, numa experiência de cogestão, inclusive com relação às propostas terapêuticas do seu Projeto Terapêutico Singular. Nesse sentido, pensar em gestão autônoma da medicação implica considerar os usuários como protagonistas e corresponsáveis referente ao seu tratamento, participando da decisão de usá-los e do modo como usá-los. A utilização medicamentos psicofármacos é uma das estratégias de cuidado em saúde mental, porém a falta de informação dos usuários perante a sua farmacoterapia , a não discussão sobre os efeitos indesejáveis, podem ocasionar em situações de superdosagem, automedicação, uso irregular e abandono do tratamento medicamentoso. Diante desta problemática, o CAPS Alvorecer iniciou o Grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM).
O presente trabalho objetiva relatar a experiência exitosa do Grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM) no CAPS Alvorecer de Santana de Parnaíba. O GAM busca proporcionar aos usuários do CAPS autonomia para gerir ativamente seus medicamentos e auxiliar na reflexão sobre o uso de seus medicamentos para melhorar a qualidade de vida.
O grupo GAM ocorre semanalmente no CAPS, com duração de 1 hora do qual proporciona um espaço de fala entre os participantes a respeito dos seus medicamentos, assuntos pertinentes ao correto armazenamento, reciclagem, posologia, efeito terapêutico, efeito indesejável e incentivar os usuários a respeito da autonomia da medicação. Ainda é realizado o treinamento em relação a administração das medicações. Para tanto, definiu-se como metodologia a participação do farmacêutico, médico psiquiatra, familiares e usuários do serviço. A proposta de trabalho neste espaço de grupo parte do entendimento de que a autonomia não se constrói de maneira solidária, mas sim na relação com o outro.
Desde o ano de 2022, semanalmente realiza-se atividades com a média de 10 pessoas. No GAM os usuários se apropriaram de diversos assuntos como o armazenamento dos medicamentos em locais apropriados, o descarte correto dos medicamentos, os efeitos terapêuticos e os efeitos indesejáveis. O ato de realizar perguntas para os usuários a respeito dos medicamentos, de seus efeitos e do papel deles em suas vidas, pôde lhes fortalecer e aumentar sua autonomia, valorizando suas singularidades e dando voz a suas subjetividades. Os desdobramentos das ações do grupo tornaram-se evidentes nos discursos dos usuários. “Hoje consigo explicar o que estou sentindo a respeito dos medicamentos. O grupo me ajudou a levantar minha autoestima e confiança.” (J.E.T.N.), ressaltando o efeito terapêutico e a importância das ações de reabilitação psicossocial em seus vínculos afetivos e sociais. Após o usuário entender que não pode suspender o tratamento medicamentoso por conta própria, M.C.S, relatou: “Uma parte do tratamento é medicação, mas outra parte do tratamento depende de nós”. No GAM os usuários aprendem a se familiarizar com os medicamentos, expor suas inquietações para a equipe e a conhecer sobre o seu tratamento, trazendo clareza no processo terapêutico. No discurso de E.D.S, fica evidente o empoderamento do sujeito e sua singularidade: “Aqui eu aprendi muita coisa. Hoje sei o que fazer com os remédios, e sei para que serve cada medicamento que estou tomando.
O grupo GAM mostrou-se como uma potencial estratégia para orientar as ações de cuidado, fomentando a autonomia e o protagonismo do usuário do CAPS no seu tratamento. O protagonismo inicia com o usuário administrando os seus próprios medicamentos. A construção coletiva do protagonismo requer a saída da condição de paciente passivo no processo de cuidado. A real ruptura com paradigmas manicomiais relaciona-se, sobretudo, com outra forma de cuidar, que coincide com a possibilidade de perceber os sujeitos em sua subjetividade e singularidades. Atividades que fomentam a autonomia do usuário e seu papel ativo no tratamento busca lutar contra a dependência do usuário em relação ao serviço, percebida, por exemplo, na permanência por anos nos CAPS. A importância de pensar na autonomia e empoderamento evidencia o papel do CAPS como promotor do cuidado, na busca pela reinserção social, pelo direito à cidadania, pela liberdade e pelo desenvolvimento e exercício da autonomia.
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CINTIA PEREIRA DE ARAUJO COSTA, NATÁLIA DE CÁSSIA ALVES, ANNE CAROLINE RAMINELLI, ESTELA NIIMI DA CRUZ, ENEIDA COSTA RAMALHO, SOLANGE RODRIGUES ROSSONE, JEFERSON GIOVAN VOLKWEIS, MARIA SILVIA DE ALMEIDA MELLO FREIRE, JOSÉ CARLOS MISORELLI (IN MEMORIAN)