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Diante do cenário de identificação de uma grande fila de espera para o atendimento com a equipe multiprofissional (eMulti) na Atenção Primária à Saúde (APS), em junho de 2024, realizamos um diagnóstico situacional, na área de abrangência da Supervisão Técnica de Saúde da Penha (STS Penha), no município de São Paulo, visando entender quais fatores estariam implicando no grande número de pessoas em fila de espera. Ao total foram visitadas 8 UBSs, pois tínhamos 8 equipes multiprofissionais. A Unidade Básica de Saúde é a porta de entrada para o acesso ao Sistema Único de Saúde, ela é a responsável pela gestão do cuidado da população do seu território, tendo um papel central na prevenção, promoção, tratamento e reabilitação em saúde, de forma integrada, humanizada, coordenada e contínua1. O cuidado precisa ser centrado no indivíduo e comunidade, considerando suas necessidades de saúde, seus aspectos sociais, emocionais, espirituais e culturais que podem interferir no processo saúde e doença2. Tendo em vista que o trabalho da equipe multiprofissional na APS segue os mesmos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de acesso, integralidade, interdisciplinaridade e resolutividade, identificamos a necessidade de realizarmos um diagnóstico situacional para entendermos os desafios para o acesso e a atuação da equipe multiprofissional na Atenção Primária sob a nossa gestão.
Identificar os fatores que estão dificultando o acesso dos usuários aos atendimentos das equipes multiprofissionais, nas Unidades Básicas de Saúde e elaborarmos estratégias para a sua resolução.
O estudo teve início com um brainstorming entre os quatro assessores da APS da STS Penha, resultando na elaboração de um questionário aplicado a profissionais da regulação, equipe multidisciplinar e gestores. Revisamos a fila de espera, garantindo a ausência de duplicidades e solicitamos aos gestores a programação das agendas da eMulti. Durante as visitas às UBSs, analisamos três prontuários por categoria profissional (fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, farmacêutico, psiquiatra e educador físico), verificando o fluxo de entrada dos usuários e os critérios adotados para a inclusão em grupos de atendimento. Investigamos ainda se os grupos haviam sido implantados com base em um diagnóstico das necessidades de saúde da população do território e se eram submetidos a reavaliações periódicas. Além disso, examinamos a existência de déficit de profissionais na equipe multidisciplinar, o que poderia impactar a oferta de serviços. Após a análise dos dados coletados, em agosto de 2024, apresentamos os resultados aos gestores e solicitamos um diagnóstico detalhado das demandas do território, além da elaboração de um planejamento estratégico das atividades da equipe multiprofissional, visando otimizar a organização e a efetividade da assistência.
Observou-se que 88% das agendas e catálogo de grupos vigentes não correspondiam às enviadas pelos gestores. Além disso, 63% das Unidades apresentavam filas fora do sistema oficial. As filas eram qualificadas apenas administrativamente, através de ligação telefônica. Todas as UBSs ofereciam atendimentos em grupo, com 59% deles voltados para assistência e reabilitação, refletindo um modelo curativista3. Embora 34% das agendas oferecessem até 10 vagas, muitos profissionais orientavam a não ocupação total das mesmas. Os encaminhamentos eram predominantemente por categoria profissional, resultando em uma lógica de atendimento ambulatorial, individualizado e não integrado, em desacordo com os princípios do SUS4. Havia um déficit de 6 fonoaudiólogos e 2 de terapeutas ocupacionais, refletindo a escassez de formação na área. O desconhecimento do papel da eMulti e a ausência de um diagnóstico epidemiológico prejudicaram a definição das ofertas de serviços. Após o diagnóstico da equipe de gestão foram planejadas ações: uma oficina com gestores em agosto de 2024 para discutir as Diretrizes da APS e eMulti, que eles elaboraram o projeto de saúde territorial para a reformulação das agendas. A segunda oficina iniciou em fevereiro de 2025, tendo sido estruturada para a eMulti e gestores, além de incluirmos a estratégia de monitoramento constante da fila de espera e requalificação, visitas locais às equipes e o matriciamento delas pelos profissionais do CAPS e CER.
Acreditamos que a realização deste estudo foi essencial para identificarmos diversas condições relacionadas às práticas da eMulti no cotidiano da Atenção Primária à Saúde. Enfatizamos, especialmente, a fragmentação do cuidado, a carência de uma comunicação eficaz e a ausência de coordenação entre os profissionais da equipe multidisciplinar, que são consequências de uma formação ainda segmentada e centrada no modelo medicalocêntrico, que prioriza o tratamento de doenças, em detrimento da prevenção e promoção da saúde. Essas questões precisam ser superadas, pois resultam em uma assistência desarticulada, desorganizada e pouco eficaz, uma vez que não consideram o indivíduo em sua totalidade e suas reais necessidades. Diante desse contexto, é necessário reavaliar as atribuições e diretrizes de trabalho da equipe na APS, que podem contribuir para uma Atenção à Saúde de maneira colaborativa e interdisciplinar, promovendo o compartilhamento de conhecimentos e habilidades para melhorar a resolutividade da Atenção Primária à Saúde.
Equipes Multiprofissionais, Estrategia
KELLY CRISTINA LINO DOS SANTOS, GABRIELLA CUNHA ALKMIN, SILVIA HELENA DE OLIVEIRA, LIDIANE DA SILVA GOMES OLIVEIRA, GUILHERME GOELZ