Siga a gente
Av. Angélica, 2466 - 17º Andar
Consolação - São Paulo / SP
CEP 01228-200
55 11 3083-7225
cosemssp@cosemssp.org.br
Por Lêda Tannus Fonseca, apoiadora do COSEMS/SP da CIR Registro
“Nada lhe posso dar que já não existam em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.” (Hermann Hesse).
Impossível falar qualquer coisa sobre o Vale do Ribeira sem falar de suas raízes históricas, geográficas, de lutas, posse de terras, guerrilhas, bananais, cavernas, comunidades quilombolas e comunidades indígenas e mais que tudo, resiliência.
Cavernas nas cidades de Iporanga e Eldorado
Penso que esta seja a característica mais forte dos nossos caiçaras nativos, índios e negros.
A região conta com 100 km de litoral e 21% de toda a Mata Atlântica remanescente do país, além de abrigar 30 comunidades quilombolas e 10 aldeias indígenas.
Aldeia de pescadores
Comunidade Quilombola
Vale rico em, belezas naturais, aves raras, histórias e lendas.
Cavernas de Iporanga
Caverna do Diabo – Eldorado
Mais do que vivermos em municípios populacionalmente pequenos, vivemos dentro de uma precariedade de recursos que nos obriga a dar as mãos a cada evento que necessite de união e Rede para se concretizar.
Assim é este povo valoroso, onde a municipalização chegou com tudo, pois todos dependíamos deste Sistema Único, tão único que pra nós, do Vale é o que temos. São 15 municípios no baixo vale, 98% SUS dependente. O desenho da municipalização e da regionalização hierarquizada por níveis de complexidade, nossa maior conquista. Defendemos os Princípios Doutrinários e Organizativos do SUS com garra e força.
Defensores valorosos e guerreiros, como o são todos os defensores valorosos e guerreiros deste Sistema Único de Saúde.
A história do Vale do Ribeira se pauta nestas e em outras dificuldades para vencer seus problemas e ultrapassar seus limites de falta de ofertas de serviços.
Cada município tem uma característica distinta, em seus pilares de sustentação do processo saúde/doença: Meio ambiente, biologia humana, oferta de serviços de saúde e estilo de vida. Um dos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da região é de 0,711 (nível médio), abaixo da média estadual de 0,783 (nível alto) também agravado pela dificuldade de acesso aos Serviços de Saúde, às escolas e demais Serviços, por questões geográficas e outras.
Quando iniciamos o processo de territorialização dos municípios para a implantação da Estratégia de Saúde da Família, há 23 anos, descobrimos que em muitos locais do Vale do Ribeiras já existiam Agentes Comunitários de Saúde, que na década de 70, atendiam na calada da noite, pois eram chamados de comunistas, considerando o momento político de nosso país. Agentes Comunitários de Saúde que faziam parto em valas sob rajadas de tiros trocados entre os posseiros.
Vale de geografia perfeita para guerrilhas, pois suas cavernas são conhecidas pelo povo local como “locas”, onde os injustiçados e perseguidos pelo Regime Militar se guardavam.
É este Vale que Apoio e do qual muito me orgulho, que foi pioneiro em muitas ações de saúde, pois dentro de sua precariedade de recursos próprios se pautou e fez da Atenção Básica da Saúde sua arma mais potente.
Isto não foi diferente na Pandemia que ora vivemos.
Pessoas morrendo nas Unidades Básicas e Pronto Atendimentos nada ou quase nada preparados para este tipo de atendimento. Neste momento, as perdas de pessoas cada vez mais próximas começaram a nos atingir profundamente: familiares, funcionários antigos, amigos. Enfrentamos os picos desta doença com garra e união, um apoiando aos outros. Passamos por este momento, não sem muito sofrimento.
Enfim, o número de casos com necessidade de internação em clínicas médicas, UTI e novos casos diagnosticados e confirmados, finalmente foram diminuindo nas estatísticas. Será que este desafio estava vencido?
Não. Começou o outro desafio, igual ou maior que o primeiro: as sequelas dos pacientes pós COVID 19, seja os que saem dos hospitais ou os que deixam o atendimento ambulatorial.
Mais uma vez, o Vale do Ribeira se desafiou e, num movimento técnico, mas muito mais, num movimento afetivo no contexto “daquilo que afeta”, se uniu e fortaleceu a Rede de Serviços para não se render a este novo desafio. Receber o paciente pós alta e trata-lo de maneira digna e merecida.
Os técnicos da DRS XII, os gestores municipais iniciaram as rodas de conversa para o processo de formação da Rede de Atenção Integral à Saúde Pós Infecção pela COVID – 19.
As propostas iniciais foram:
• Formação de Grupo de Trabalho envolvendo os gestores municipais e seus Técnicos, Técnicos da DRS, representantes dos Serviços de Referência, Rede Lucy Montoro, AME, Hospital Regional de Registro – HRR e Hospital Regional Dr Leopoldo Bevilacqua – HRLB e Hospital São João de Registro;
• Apresentação da Proposta de Matriciamento em reabilitação pós infecção COVID 19;
• Apresentação da proposta da Proposta Ampliada de Alta Qualificada e Responsável unificada para todos os Serviços
• Apresentação das propostas já em fase de elaboração e implantação dos municípios de Registro e Itariri.
Este processo está em desenvolvimento unindo forças de todas as instâncias locais, regionais e estaduais do SUS.
Estado, municípios e Serviços de referência, como o AME, REDE LUCY MONTORO e os HOSPITAIS REGIONAIS, formando um Rede Solidária de trocas e somas num movimento de “ganha/ganha”, onde o maior beneficiário será o usuário do Sistema Único de Saúde.
“(…)saúde é antes de tudo um fim, um objetivo a ser atingido.
Não se trata de um estado de bem estar, mas de um estado do qual procuramos nos aproximar; não é o que parece indicar a definição internacional, como se o estado de bem estar social e psíquico fosse um estado estável, que uma vez atingido, pudesse ser mantido. Cremos que isso é uma ilusão e que simplesmente é preciso, e já é muito, fixar-se o objetivo de se chegar a esse estado.” (Dejours C.)