Houve também um apontamento de que a mudança no Programa Mais Médicos teve um impacto negativo na organização da AB no estado. Antes, o Ministério da Saúde, com o Programa Mais Médicos disponibilizava médicos estrangeiros ou brasileiros para trabalhar nas unidades de saúde. Esse programa, que tinha uma cooperação com o governo cubano, foi rompido, e a partir daí o Programa Médicos pelo Brasil do Ministério da Saúde passou a publicar editais de contratação de médicos sem considerar as necessidades da maioria dos municípios do ESP. A mudança de programa fez com que São Paulo perdesse muitas vagas.
Outro problema colocado como importante e grave é a falta de medicamentos para os usuários, não só aqueles que estão na lista de medicamentos na AB do Programa Dose Certa, mas também dos Medicamentos Especializados (alto custo), por desabastecimento dos Governos Federal e Estadual.
Outro tema, que não tem relação direta com a AB, é que os serviços especializados, tanto ambulatorial quanto hospitalar, não são oferecidos na quantidade necessária para atendimento das necessidades da população. O estado de São Paulo não ter o processo de regionalização e o processo das pactuação das referências de serviços para o atendimento de média e alta complexidade tem um impacto muito grande na AB.
Foi apontado ainda o problema em relação ao Sistemas de Informação da AB, o ESUS AB do MS que é muito difícil de ser preenchido, instável e não disponibilizar relatórios gerenciais para que os gestores possam analisar os dados para fazer o seu planejamento.
JC – Um dos problemas apontados foi a ausência do Planejamento Regional Integrado. Qual o impacto desta ausência no trabalho das equipes da AB?
Aparecida: O que está previsto no SUS é de ele ser um sistema único com políticas nacionais de saúde para o país inteiro que se transformam em ações de saúde que são executadas nos municípios. Como temos um grande quantitativo de municípios de pequeno porte, é importante contar com uma organização regionalizada da Rede de Atenção à Saúde, com serviços especializados de referência regional.
Sem planejamento regional integrado, os municípios de pequeno porte, que não têm o serviço especializado, não conseguem acessar essa rede regionalizada.
JC – Por que é fundamental a pauta da AB estar sempre presente nas discussões dos gestores municipais e equipes?
Aparecida: A unidade básica de saúde é o serviço mais capilarizado que temos no SUS. O estado de São Paulo tem em torno de cinco mil unidades básicas de saúde distribuídas em todos os municípios de acordo com o porte populacional. A AB é o serviço do SUS que chega mais perto da população, e as equipes das UBS tem o papel fundamental de cuidar das pessoas onde elas moram, e devem ser a porta de entrada preferencial para o sistema de saúde. A equipe da unidade básica de saúde tem que ser capaz de cuidar das pessoas, de entender o problema das famílias e conhecer o território para poder fazer projetos de cuidado, que chamamos de projeto terapêutico singular, tentando entender porque aquela pessoa tem aquela doença não só do ponto de visto biológico (que é fundamental), mas também entender qual o impacto que a condição de vida daquela pessoa tem na saúde.